sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

ADOLF HITLER.....KARL MARX







CIDADES | Um nome no paredão






/ DIREITOS HUMANOS / ADVOGADO CONDENA O CARTÓRIO QUE REGISTROU ADOLF HITLER, ESTUDANTE DE CURRAIS NOVOS QUE SOFRE CONSTRANGIMENTO POR CAUSA DO DITADOR NAZISTAS
Texto: RAFAEL DUARTE
ADOLF HITLER ESTÁ com os dias contados. O polêmico nome que tanto incômodo vem causando ao currais-novense Adolf Hitler Souza Mendes desde que o estudante, de 21 anos, passou na primeira fase do vestibular da UFRN para o curso de Ciência e Tecnologia, deve mudar.
O advogado Emanuel Palhano, ligado aos Direitos Humanos, explica que a questão está errada desde o registro no cartório e que, agora, caso seja mesmo desejo do garoto, a mudança é mais fácil do que se imagina. Uma decisão do Supremo Tribunal Federal há cerca de dez anos abriu jurisprudência no caso e, desde então, os cidadãos que estão expostos a situações constrangedoras por conta do nome de registro podem suprimir a denominação que não querem e adotar o nome pelo qual são conhecidos no dia-a-dia.
Palhano cita os casos do ex-presidente da República Luís  Inácio  da  Silva,  que  incorporou o Lula ao nome, e a apresentadora Maria das Graças Meneghel, que adotou o Xuxa. No caso de Adolf Hitler, a solução seria suprimir o Hitler já que o estudante é chamado pela família e a maioria dos amigos de Adolf. “Isso está errado desde o início. A lei de registro público diz que o oficial do cartório pode se recusar a registrar um nome que exponha a pessoa ao ridículo. A lei ampara o Adolf nesse caso e ainda tem a jurisprudência do STF que diz que o nome é a forma pelo qual a pessoa se identifica. Para corrigir, não é problemático”, afirmou.
Num caso como esse, de acordo com o advogado, o nome jurídico do caso é ‘procedimento simplificado’, o que significa menos burocracia para a conclusão do processo. Emanuel Palhano também explicou que Adolf Hitler pode evocar a justiça gratuita pelas condições financeiras família e, dessa forma, não precisaria gastar nenhum centavo com as custas processuais.
DRAMA
Adolf Hitler Souza Mendes é fruto de um relacionamento turbulento que não deu certo em Currais Novos. Mesmo a contragosto da mãe, o pai decidiu registrar no cartório da cidade o nome do filho de Adolf Hitler. Já separada do marido,  Maria das Graças Bezerra Souza batizou o garoto, na igreja católica, como Adolf Henrique.  O estudante teve uma trajetória de vida dramática até aqui. Abandonado pelo pai, não pode morar com a mãe porque o padrasto não o aceitava em casa. Morou com a avó materna até a velhinha morrer em pouco tempo.
Dali conseguiu abrigo na casa de uma tia, mas a senhora também morreu em pouco tempo. Na terceira tentativa com a segunda tia ficou também até o fim dos dias dela. Só então, depois que a mãe se separou do ex-marido, com quem teve dois filhos (Danrlei e Darlan), é que Adolf pode finalmente voltar para casa, hoje na rua general Varela, em Petrópolis. Numa dessas coincidências que nem Freud explica, Adolf Hitler mora numa casa que já pertenceu a uma família judia que veio para Natal quando a perseguição nazista foi intensificada durante a 2ª Guerra Mundial.
Ao lado, funciona uma sinagoga, templo judaico. Ao NOVO JORNAL, o homônimo do ditador nazista disse que sente medo da reação das pessoas, principalmente depois das agressões que sofreu nas redes sociais assim que seu nome foi divulgado pela UFRN. “Tenho medo das reações que o nome está causando. Isso nunca aconteceu antes, nem na escola, nem quando me alistei no Exercito. É por causa disso que quero mudar”, afirmou.
O DIA EM QUE HITLER VIROU POP
Se já era conhecido pelo nome, Adolf Hitler virou definitivamente um cara popular entre os amigos. Só quem não gostou muito foi a namorada do rapaz, candidata a uma vaga no curso de Medicina na UFRN. No Facebook, as mensagens relacionadas à beleza dele incomodaram a menina. “Estou muito popular, meus amigos dizem que virei pop. Várias pessoas ligaram para minha mãe perguntando se realmente era eu no jornal. Só minha namorada não gostou muito da ideia por causa da repercussão, no Facebook mandaram muitas mensagens dizendo que eu sou bonito”, contou o estudante que, apesar de não ter conta no Facebook, acompanhou a repercussão pelo twitter, onde assina @adolfmendes e se dei ne como ‘estudante, surfista, músico, resenheiro, romântico, São Paulino, Cristão e Apaixonado por excesso de adrenalina’.
Depois da publicação da reportagem, Adolf Hitler diz que não conversou muito com a mãe a respeito, embora hoje mantenha uma boa relação com Maria das Graças Bezerra Souza. Porém, adiantou que devem acelerar o processo para a mudança definitiva do nome. “A gente está vendo os procedimentos, enfim. Mas minha mãe não comentou muita coisa”, diz o estudante, que mora em Petrópolis com a mãe e um irmão. Candidato a uma vaga no curso de Ciência e Tecnologia da UFRN, Adolf passou na primeira fase em 1330° lugar. Ele optou pelo turno da noite e vai concorrer a uma das 560 vagas disponíveis. O estudante se diz confiante. “Estou sim, acho que fui bem nas provas discursivas e espero passar”, disse o garoto que está no segundo vestibular. O primeiro, ano passado, fez para engenharia civil, profissão que sonha seguir no futuro próximo. “Estou fazendo Ciência e Tecnologia porque é mais fácil passar, já que dois anos dentro do curso você pode optar por entrar numa das engenharias”, conta.
DURANTE A DITADURA, KARL MARX VIROU CARLOS NEI
A luta para mudar de nome não começou com a história do currais-novense Adolf Hitler. De vez em quando a imprensa cita um ou outro caso pitoresco. O advogado Diógenes da Cunha Lima coleciona alguns. Ele lembra que, durante a ditadura militar, pegou um caso curioso semelhante ao do estudante potiguar. Nos anos de chumbo, qualquer atitude suspeita na cidade tinha um culpado: o estudante Karl Marx.
Não havia época pior para o jovem mostrar a identidade do que nos tempos da ditadura. A sorte dele, naquele período, é que a legislação autorizava a troca do nome desde que a pessoa fosse conhecida por um codinome. Foi assim que Karl Marx virou Carlos Nei. O advogado diz, no entanto, que o cliente não tinha qualquer ligação com a esquerda. O problema era o pai, ligado ao Partido Comunista.
“Conversei com Seabra Fagundes, um dos maiores juristas do país, e contei a história. E ele me explicou que embora pelo princí-pio básico o pré-nome simples ou composto fosse imutável, a identificação da pessoa é que era, ou seja, imutável é como o indivíduo é conhecido. Foi então que conseguimos na Justiça o direito dele se chamar Carlos Nei, como era conhecido”, disse o advogado que também recorda da história de Virgulino Ferreira, chamado pelos amigos de Lampião, e de uma mulher a quem o pai deu o singelo nome de Pênia.
Sobre a história do estudante potiguar homônimo do ditador nazista, ele acredita num final feliz para o garoto, que sonha em assinar os documentos como Adolf Henrique, nome com o qual a mãe o batizou na Igreja Católica. “Um juiz que tenha a dimensão da importância social desse caso dará a autorização para o garoto mudar o nome, não tenho a menor dúvida disso. É uma história muito bonita”, ai rmou.
REPORTAGEM REPERCUTE NAS REDES SOCIAIS
A história surreal de Adolf Hitler Souza Mendes repercutiu muito nas redes sociais e até na imprensa nacional. O G1 – portal de notícias da Rede Globo – procurou o estudante depois que o NOVO JORNAL publicou a reportagem na edição de ontem.
Pelo twitter, mais de 40 mensagens em alusão à matéria citaram o jornal. A maioria dos recados enalteceu a história do drama vivido pelo Adolf Hitler do Seridó. Várias pessoas indicaram a leitura.
A qualidade do jornalismo produzido pelo NOVO JORNAL em dois anos de existência também foi bastante citada. O twitteiro Jorge Correia Júnior ficou curioso com a repercussão e escreveu sobre a ansiedade antes de ler sobre a história. “Já no meio de dia… bom dia. Lendo aqui a timeline e vendo a repercussão da entrevista com Hitler no @NovoJornalRN. Tô curioso para ler tbm”, postou.
A jornalista Gabriela Olivar acredita que a criatividade das reportagens é o que manterá o jornal impresso vivo. “O  @NovojornalRN sabe como mostrar que o jornalismo (criativo) impresso não vai morrer”, atestou.
Outro fato curioso divulgado pelos internautas foi a existência de pelo menos mais três pessoas chamadas Adolf Hitler no Rio Grande do Norte. De acordo com os jornalistas Samária Araú-jo e Jean Karlo, em Macaíba há um policial militar e um professor de história que também carregam o nome do ditador nazista. Da mesma forma, segundo o jornalista João Bezerra Júnior, existe um homônimo de Hitler em Currais Novos, curiosamente a mesma cidade onde nasceu o estudante que tenta, agora, mudar de nome.

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